Num
de seus livros, “Grandes Sertões: Veredas”, o notável Guimarães
Rosa, através de um de seus personagens, destaca que “Viver é
muito perigoso”.
De
fato, a própria natureza, por si mesma, se encarrega de tornar a
nossa aventura terrena algo muito radical.
Zunindo
por sobre as nossas cabeças, só aqui no Brasil, por ano, são cerca
de 100 milhões de raios com carga positiva, a mais letal delas.
Não
bastassem as variações climáticas, o próprio ser humano
encarrega-se de complicar os atos de viver, sobreviver e conviver:
guerras, violência urbana, corrupção, conflitos pessoais de toda
ordem, agressões físicas e verbais, autoagressões de todos os
níveis e para todos os gostos: alcoolismo, tabagismo, drogadição,
raiva e ódio desmedido, a deteriorar a saúde física e mental.
Correndo por fora disso tudo, e maltratando ainda mais, o assédio
moral e sexual, bullying, pressões exageradas e extremamente
desleais… Catastrofismo? Pessimismo? Não: realidade!
O
mesmo Guimarães Rosa lembra também que “Aprender a viver é que é
o viver mesmo”, e, neste sentido, a expressão VALORIZAÇÃO DA
VIDA, carrega em si mesma, algumas espécies simbólicas de escudos,
capacetes e coletes de proteção, na medida em que adotem-se
cuidados salutares para com a mente, o corpo e o meio ambiente, ante
o burburinho diário.
Se
tivermos mais zelo no caminhar, transitaremos em meio aos 100 milhões
de raios, de balas nem sempre perdidas, e dos desafios sociais,
morais e emocionais, com razoável margem de segurança. Contudo,
quando as eventuais dificuldades resultam das atitudes deliberadas de
DESVALORIZAÇÃO DA VIDA, quando perdem-se o foco das coisas que
propiciam um viver saudável, do conviver sem conflitos, e do
sobreviver digno, honrado, dentro do que é de direito, e sem avançar
na seara alheia, a boa existência fica comprometida e os sofreres
podem se suceder em escala ascendente.
Segundo
ensina a teoria humanista formulada pelo também notável psicólogo
norte-americano Carl Rogers, todo ser humano nasce com
potencialidades suficientes para se entender, e encontrar seus
próprios rumos na vida emocional e sentimental.
O
ferramental do saber ouvir ativa, respeitosa e empaticamente,
propicia naturais possibilidades de compreensão das nuances nos
relacionamentos humanos, ofertando larga margem de proteção contra
verdadeiros vendavais de sentimentos e emoções conflitantes.
Ouvir
com atenção, respeito e aceitação o que o outro tem para dizer,
oferece boas chances de sobrevida para aqueles que eventualmente
estejam sobrecarregados, e sob o impacto de verdadeiras “descargas
elétricas” emocionais, fruto das pressões diárias, das
exigências a que somos submetidos, do eterno fantasma do fracasso a
rondar mentes entulhadas de responsabilidades e culpas (devidas ou
indevidas), do “correr atrás do prejuízo”, dos desafios por
vezes aparentemente acima de nossas capacidades.
O
recente prêmio Nobel de Economia, Richard Thaler, criador da Teoria
da Contabilidade Mental, juntando conceitos de finanças à
Psicologia, afirma que vivenciamos a dicotomia (ambivalência), de
precisarmos racionalizar os gastos, entretanto, algo em nosso íntimo
nos leva a ser irracionais na forma de desembolsar recursos.
A
impulsividade tem nos escravizado de A a Z, em todos os setores da
vida. Muitos arriscam-se a dar o primeiro passo na direção dos
vícios de beber, fumar, ou cheirar, na ilusão de aliviarem-se das
tensões geradas, quando racionalizam-se mal os custos e os
benefícios de iniciativas infelizes, e raros são aqueles que
conseguem desatarem-se dessas amarras.
Ainda
girando em torno das teorias de Thaler, sem grandes esforços, dá
para perceber que o ato de esbanjar recursos financeiros pode
ocasionar pressões indutoras da gana de ter, o que, em tese, tenderá
a proporcionar intranquilidades, angústias, níveis de estresses
exagerados, tornando a luta pela sobrevivência, muitas vezes, um
combate desigual, restando uma vida vivida em ritmo de
desvalorização.
O
cérebro, o coração e o sistema nervoso trabalham a “todo vapor”,
e a vida deixa de ser prazerosa, sem espaço que propicie salutar
reconforto, sossego, serenidade.
Riobaldo,
o protagonista da obra magistral, apontada lá no início deste
texto, na condição de velho fazendeiro e ex-jagunço, transitou
entre o amor platônico e impossível de Diadorim, o amor carnal da
prostituta Nhorinhá, e o amor puro e verdadeiro de Otacília,
conhecendo como poucos sobre as entrâncias e reentrâncias do que
vem a ser as peripécias do viver, do conviver e do sobreviver,
perigosa e impulsivamente.
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