Pesquisar este blog

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

DECLARAÇÕES DE AMOR...E DE ÓDIO

“Filho meu se apanhar na rua, quando chegar em casa apanhará mais”, diz um dos pais (ou ambos, numa só voz). Quer dizer: pressionam-se os filhos para revidar agressões com mais violência, e não se motiva para o amor, nem para o perdão.
 Sem querer avançar pelo terreno movediço da “filosofia barata”, medindo e pesando cada letra, arrisco-me a tecer algumas considerações sobre a predominante tendência de muitas pessoas absterem-se das declarações de amor, e a fugirem da palavra “amigo”.
  Já ouvi um cidadão, de seus 75 anos de idade, dizer (como se fosse algo meritório), que “está casado há mais de 50 anos e nunca declarou o seu amor pela esposa”. Fez uma festa de arromba, para comemorar as bodas, mas, sem verbalizações “comprometedoras” de seu amor.
  Com relação a palavra AMIGO (que muitos preferem usá-la de forma parcimoniosa e seletiva), vale lembrar que, em razão de sua derivação, a partir do latim amicus, especulam-se principalmente duas possibilidades: a primeira, é de que a expressão venha de amare (amar); e a segunda, é de que ela viria de animi (alma), e custas (custódia), ou seja, o termo AMIGO, equivaleria a expressão “guardador de alma”, ou alguém que toma conta da alma de outro.
  Há um certo clima de constrangimento quanto a intenção de se dizer “eu te amo”, e até para muitos, a palavra “amigo”, por vezes, exerce uma espécie de invasão.
  Entre os casais enamorados, durante a fase de conquista, as declarações de amor até tornam-se corriqueiras, mas muita gente se queixa que depois dessa fase, o sentimento nobre, antes declarado e reiterado um monte de vezes, se retrai, até se esconde, e fica numa espécie de hibernação.
  Entretanto, quando “o sangue ferve e sobe à cabeça”, quando a ira toma conta da emoção evidenciada pelo empalidecer, ou enrubescer da face, pelo tremor dos lábios e das mãos, as declarações espontâneas e morbidamente prazerosas de raiva ou ódio, fluem com grande facilidade.
  Não bastassem as guerras que pipocam por várias regiões do globo terrestre, também do lado de dentro  de nós, os conflitos ecoam com um ruído ensurdecedor.   Tanto que, quando perdemos as estribeiras, a impulsividade dita as iniciativas raivosas.
  Aprendemos a cultivar a corrosiva mágoa, a não levar desaforo para casa, e isto está colocado no sentido de não se tolerar nada que, imaginemos, ameace a nossa integridade física ou moral. Nesse sentido, os critérios que usamos para avaliar se querem ou não invadir o nosso território psíquico, a nossa intimidade de valores éticos e morais, ficam a depender, quase sempre, do momento, ou do nosso bom ou mau humor.
  Raras são as pessoas que privilegiam a manutenção da serenidade, abstendo-se do revide. Quem duvida desse fato, é só observar as explosões emocionais ocorridas no trânsito, entre pedestres e motoristas, e entre eles mesmos: basta um leve descuido, uma reles barbeiragem, e o incêndio ocorre; um esbarrão, e os ânimos se exaltam. De tão reativo, de tão “bateu levou”, criamos boas e fartas condições para a instalação de cânceres e ataques cardíacos precoces, a nosso desfavor. 
  Dá a entender (pelo menos para mim), que se fôssemos educados não com base no revide, mas sim pelo viés da compreensão, da aceitação, de perceber as pessoas como elas são e estão (talvez num momento crucial de suas existências), nos aproximássemos mais daquele outro sentimento que tanto buscamos: a paz. 
 Precisamos, cada vez mais, exercitar a sincera declaração de amor. O “eu te amo” é um bálsamo, uma espécie de “tônico revigorante” que fortifica laços afetivos entre os casais e também entre familiares, e até amigos.
 Há quem seja inibido para falar de amor, e fluente para mencionar desprezo, desdém pela outra pessoa.
 Ressabiados com estamos, de um modo geral, e por conta de muitas e muitas decepções, desilusões terríveis, nos armamos de duras carapaças sentimentais e emocionais, na tentativa de protegermo-nos de invasões indesejáveis… Quer dizer, muitas vezes rodopiamos em torno do Bem, sem tomarmos a iniciativa dele, e abraçamos a, digamos, formalidade no trato, preferindo o eterno estado de vigília, só para não sofrer algum “desapontamento fraternal”.
 A vida, curta e rápida como ela é, poderá nos dar a oportunidade de vivê-la intensamente, mesmo transitando entre o quente, o morno e o frio dos sentimentos e das emoções, mas essas diversidades de temperatura poderão ser, em várias ocasiões, ajustadas por nós mesmos. Nos dizeres do “Movimento pela Paz”, a paz do mundo começa em mim, começa dentro de você que ora ajuda-me a refletir sobre este tema vital para a humanidade. Sem amigos e amores sinceros, estaremos fadados a uma vida atribulada, tórrida e árida, seca como um deserto, onde veremos ameaças até na nossa própria sombra.
 Para reverter o quadro, basta que todos estendamos a mão, querendo de fato, estendê-la. Pouco ou nada adiantam os apertos de mãos formais, dados com as pontas dos dedos, nem os cumprimentos expressados por um balbuciar entredentes, de palavras vãs e sem sentido para quem as verbalizam, mais um penduricalho social, e que no modelo atual, tornou-se (para usarmos uma palavra da moda), algo coercitivo, obrigatório.
 Nossas máscaras sociais, usadas a todo instante, pesam demais, e nos leva a trilhar por veredas escorregadias, que nos impedem de ser mais verdadeiros e felizes. E, ainda assim, continuamos renitentes na posição de ariscos, sempre com um pé atrás em relação ao outro. 
 Se atitudes arredias afastam, os gestos de cordialidade aproximam, cativam e unem.



quinta-feira, 2 de novembro de 2017

"O QUE ESTÁ CORRETO JÁ NÃO VALE MAIS"

Para muita gente brasileira, são fortíssimas as razões para confiar mais no Judiciário do que no Legislativo (ambos, de um modo geral), em todos os níveis e em todas as regiões do país.
Não é segredo que alguns poucos membros do poder encarregado de julgar, já perderam a credibilidade. Mas, a maioria dos integrantes do Judiciário tem demonstrado que faz a coisa certa, e que poderia fazer mais e melhor, não fosse as leis fajutas, engendradas sob encomenda para beneficiar quadrilhas e quadrilheiros, e que não dá espaço para que juízes e promotores idôneos e íntegros, promovam a punição daqueles que vêm, há muito, açambarcando os cofres da Nação com um ímpeto de uma ratazana esfomeada.
Indigna, constrange e envergonha ver e ouvir baboseiras dos que tentam justificar e explicar fatos ilegais, imorais, e inexplicáveis, quase sempre com argumentações que, de tão cínicas, transparece um certo tom de zombaria, achincalhe, e até de desdém pela inteligência dos cidadãos de bem.
Das duas uma: ou as autoridades encarregadas de investigar e promover os processos contra crimes de corrupção praticados são injustas, levianas, incompetentes, e merecem ser cobradas por isso, ou os políticos e empresários acusados são desonestos mesmo, um quadrilhão que precisa ser defenestrado, lançado vigorosamente aos cuidados dos carcereiros de plantão, e responsabilizados pelo estrago feito.
Como pode a Suprema Corte (encarregada máxima da interpretação e aplicação da Lei), acusar um Presidente da República e não conseguir puni-lo?
Que País é esse que a Justiça diz claramente que a autoridade máxima precisa explicar atos de corrupção, e o Legislativo, desavergonhadamente, diz que os atos desonestos presidenciais não devem ser julgados, em razão de vivermos sob um regime democrático?
Democracia é um sistema de governo em que a soberania é exercida pelo povo, e no interesse do próprio povo, mas, o que se depreende daquilo que se ouve, partindo das tribunas, é que o nosso governo, autonomeado de democrático, utiliza-se desse rótulo para encobrir tudo o que são malfeitos.
Ao que parece, uma das duas casas precisa reformular-se, ou fechar as portas por não cumprir a missão para a qual foi criada.
O tempo passa e quem está na condição de fora da lei, permanece em liberdade, e mais grave ainda: mandando, e com foro privilegiado, intocável.
Autoridade, na concepção do povo, precisa possuir moral ilibada, ser incorruptível, e não só ser honesta, mas também transparecer honestidade.
Não há erro “mais ou menos”. Ou está errado, ou está certo. Nesse caso, quem está errado, e quem está certo?
O que leva pessoas altamente conhecedoras da Ciência do Direito a garantir que, no caso, alguns figurões da política sejam acusados das mais sórdidas falcatruas, e outras, também de incontestável saber jurídico, esforcem-se bravamente para soprar na direção dos corruptos um certo ar de alívio?
O que causa asco é percebermos o esforço de quem deveria julgar e/ou aprisionar com isenção, demonstrar, sem o menor pudor, que toma partido e transparece manobrar para que o resultado final favoreça indevidamente algum réu de primeira grandeza (tratado com reverências, salamaleques, mesuras, rapapés e cortesias exageradas, como foi o caso do ex-governador do RJ, que conseguiu enfiar entre as grades da própria cela, um televisor de 65 polegadas, de última geração, e toda parafernália accessória que a transformaria num cinema, ao custo de R$ 8.000,00, pagos em dinheiro vivo por um dos comparsas (e companheiro de cela), sem ninguém resistir.
Deus só é Deus porque possui força moral para ser o que é. Autoridade desmoralizada não merece respeito, e só consegue ostentar o título pela força bruta.
Que dizer de um País cujo povo, cativo, obediente e ordeiro se deixa governar por um trio de corruptos, que substituiu outros não menos desonestos?
Que dizer de uma Nação que, de tão passiva e subserviente, perdeu a noção dos valores, e que, de tão descaracterizada, seus habitantes já acostumaram-se a não ter direito?
Que dizer de um povo que trabalha de sol a sol e não vê nenhum resultado prático do lema “Ordem e Progresso”, ultimamente usado pomposa e maldosamente, num truque apelativo?
Nos últimos setenta anos o Brasil nunca esteve tão à deriva quanto agora. A astúcia dos políticos descompromissados com o pudor, com a honestidade, e tendo a força vigorosa de uma máfia bem articulada (espraiada pelos Três Poderes), sufoca o povo como faria uma presa impotente e passiva, dominada por uma sucuri.
Mais do que nunca, a escala que mede psicopatias quando direcionada às cabeças dos excelentíssimos corruptos, explica as razões das mortes inumeráveis e à míngua, ocorridas à porta ou dentro dos hospitais públicos. Também, o esfacelamento moral e ético de uma geração de jovens altamente envolvidos com drogadição, ideações suicidas, e um preocupante agravamento do índice de suicídios consumados, denota efetivo desamparo de educação, a conduzi-los ardilosamente para uma desconstrução do caráter, da honra, da moral e da ética.
Viver incertezas sociais, econômicas, e até morais outras, dentro de todas as incógnitas que as próprias circunstâncias da vida permite, é algo que gera consequências danosas, de curto, médio e longo prazo, a ameaçar a paz e o bem-estar de todos nós.
Em setembro último, ressurgiu na web um vídeo gravado em 2015, durante o VII Festival de Música Popular Paraense, numa interpretação da cantora Juliana Franco, com a música “A Ordem do Inverso” da autoria de Yuseff Leitão, cuja letra permanece atualíssima e consoante com a imagem que todos os bons brasileiros têm da sua Pátria (mãe gentil e, ainda tão distraída).
O desabafo do autor (mantido quase que em anonimato pela mídia capciosa), fala das decepções e das angústias que permeiam a vida da grande maioria dos cidadãos de bem e de vergonha na cara: “roubaram o meu amor pelo Brasil, tiraram minha paz e ninguém viu, levaram do meu bolso a carteira, a ordem e o progresso da bandeira”, lamenta o poeta.
Roubaram o remédio do hospital, a verdade do espaço eleitoral; roubaram a galinha do quintal, compraram a manchete do jornal; roubaram as grades da prisão, colocaram nas janelas, no portão; do hino roubaram a pátria amada, e a futilidade é idolatrada”, grita o seu desconsolo e a sua inconformação, Yussef Leitão em outros trechos de sua obra.