As
propagandas, numa determinada época, quando percebidas mais à
frente, num futuro distante, servem para se mensurarem os valores de
um período histórico, as preferências, os hábitos, o contexto e
as circunstâncias sociais, políticas, religiosas, enfim, podem, em
boa medida, retratar um momento de um povo.
A
década de 1910 reuniu produtos curiosos em relação aos padrões
atuais: a Succulina, usada no combate à calvície; o Salkinol, que
prometia combater a urucubaca (a má sorte, o azar, a ziquizira), a
influenza, a tosse rebelde, bronquites, asma e desinfectava os
pulmões; o chocolate Lacta (que apelava na propaganda, dizendo que
“o médico legista constatou que a morte do cadáver foi devido a
ele não ter feito uso do delicioso chocolate”; as cervejas Supimpa
(da Brahma), e a Rainier (que garantia que era “benéfica para
jovens e idosos”); o Vigonal, um calmante cuja extensa propaganda
dizia que “o pessimista é uma criatura indesejável no lar, na
sociedade e nos centros de trabalho, porque as suas opiniões são
sempre negativas. Vê tudo negro! Entretanto, o pessimista não tem
culpa de ser assim... São os nervos esgotados os verdadeiros
responsáveis pelo seu estado. Vigonal é o reconstituinte indicado.
Vigonal nutre as células do cérebro, enriquece o sangue,
recalcifica os ossos, promove a perfeita assimilação dos alimentos.
Faz aumentar vários quilos em poucas semanas. Inicie imediatamente o
uso de Vigonal e seja otimista, para ser bem-vindo em toda a parte”;
e, o Vinho Caramuru (indicado “para fraqueza genital, para os que
estão no ocaso da vida, para combater a falta de memória, a
insônia, a neurastenia, e a espermatorreia”).
1914
foi o ano em que a publicidade profissional iniciou formalmente no
Brasil. Na ocasião, foi inaugurada em São Paulo a agência
“Eclética”, com um portfólio de marcas famosas: Ford, Texaco,
Sabonetes Lux, Palmolive, e Eucalol, Guaraná Champagne, Maizena,
creme dental Kolinos, canetas Parker, Gillette, Aveia Quacker, e
Biscoitos Aymoré.
Paralelamente,
os governos de um modo geral, juntos aos estrategistas militares,
empenhavam-se na propaganda da 1ª
Guerra Mundial, quando, por exemplo, distribuíram posters com os
dizeres: “Por que eu não vou? O 148º Batalhão precisa de mim.”;
“Quatro razões para comprar bônus de guerra”; “Preserve os
produtos perecíveis. Se você tem um pomar, você deve fabricar
conservas”…
Em
meio às terríveis consequências daquele primeiro grande conflito
mundial, das epidemias de sífiles, varíola, e gripe espanhola,
amontoaram-se cadáveres, e o trágico resultado disso, foram 65
milhões de vidas humanas ceifadas, somente entre 1914 e 1918.
Como
não poderia deixar de ser, e como ainda hoje ocorre, o êxodo, a
fuga de famílias em busca de paz e meios de subsistência, foi a
alternativa que representava uma boa dose de esperança, ainda que se
vislumbrasse um futuro de esforços redobrados, dificuldades de
recomeço, e readaptação.
Aqui,
no Sul do Brasil, quatro municípios quase que vizinhos, em
território catarinense, nasceram no ano de 1917: Chapecó, Joaçaba,
Mafra, e Porto União. Esta última surgiu com o dom de unir povos,
de geminar-se a outro município (União da Vitória), como resposta
às disputas territoriais, como a exaltar todas as vitórias humanas,
ainda que tenha sido fundada em 05/09/1917, em pleno borborinho
político e social que todos os conflitos armados propiciam.
(fotos
de Claro Jansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/
Nesse
quadro, quando voltamos o olhar ao passado, além do nosso próprio
passado, quando exercitamos a reflexão em torno de nossos
antepassados, daqueles que, de alguma forma, em qualquer instância,
em qualquer lugar do mundo, trabalharam pela vida, pela perpetuação
da espécie, com ou sem vínculo de parentesco, é preciso
reverenciar o denodo, a coragem, as iniciativas daquela gente.
(fotos
de Claro Jansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/
Olhando
de longe, ainda assim, dá para imaginar o esforço, as aventuras e
desventuras, o cansaço, a quase exaustão de caminhar na direção
do desconhecido (computados os medos, as incertezas, as saudades, as
parcelas de vida que tiveram que ser deixadas para trás, o
recomeçar).
(fotos
deClaroJansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/
Caminhar
nos dias atuais em busca de melhorias de vida, não é coisa simples,
todos o sabemos. Caminhar no mesmo sentido há cem anos da tecnologia
da velocidade dos tempos de agora, é outra coisa. Seguir a estrada,
ou por outra, confrontar mares bravios, em busca de incertezas, e ter
que olhar pela vida dos familiares de maior e ou de tenra idade, no
início do século XX, sem expectativa de descanso ou trégua, é um
feito digno de todas as reverências, dos mais expressivos monumentos
ou obeliscos.
Aquele
povo, do início do século XX, exausto pelos repuxos da vida,
certamente, não teve tempo de reflexionar o suficiente para
economizar gastos com casas, ruas, estradas, fábricas, e toda a
estrutura que acabaram por deixar para nosso usufruto agora, em 2017.
Sangue, suor e lágrimas regaram os seus caminhos.
Porto
União, a bela e acolhedora Porto União, terra de gente
trabalhadora, produtiva, hospitaleira, tem todo direito, e o dever,
de reverenciar os seus antepassados, em grande, e no melhor estilo.
Vistas de cima, Porto União (SC) e União da Vitória (PR), as Gêmeas do (Rio) Iguaçu.