Nos últimos tempos a palavra crise tem sido uma das mais pronunciadas no território brasileiro. Acima dela está o vocábulo corrupção, que de tão indigna e abjeta, nem merece ser qualificada como vocábulo, mas como depravação pura e simples, imoralidade mesmo, perversão, deterioração, putrefação do tecido social.
No
caso brasileiro, os rombos incalculáveis nos cofres públicos,
a falência do sistema de
saúde e da educação, da previdência social, da segurança, dos
valores morais de muitos cidadãos brasileiros, ocorrem como
consequência da gana desesperada de se querer levar vantagem em
tudo, e sem a menor preocupação com ferir-se ou não as leis e os
direitos individuais. Douram-se as pílulas venenosas da maldade
desenfreada com as meias-verdades dos direitos humanos, mas por outro
lado, roubam-se desses mesmos seres a dignidade de serem respeitados
e bem acolhidos pelo famigerado SUS, ou nas escolas que estão aos
cacos, ou ainda por qualquer um dos órgãos públicos sucateados e
repletos de funcionários mal pagos e sem ânimo para evoluir na
carreira.
Corruptos
e corruptores costumam repetir suas mentiras como um mantra, na
tentativa de as perpetuar como se verdades fossem. E para dar solidez
a essa espécie de obsessão, afundam-se em outras tantas inverdades.
Para eles, o que mais importa é levar vantagem em tudo e a qualquer
custo, mesmo que atropelem as leis e os direitos alheios. O corrupto,
“padrão mentiroso compulsivo”, na sua essência, assemelha-se a
um psicopata que, de tão compenetrado em manter as aparências de
pessoa ilibada, surpreende a muitos quando o escândalo vira notícia.
A
mentira é fértil geradora das corrupções e das crises
consequentes dela.
Talvez,
alheio aos estudos da psicologia, Gérson, o famoso meia-armador da
seleção canarinho de futebol, tido como o “cérebro do time
brasileiro campeão da copa do mundo de 70”, quando corria o ano de
1976, atuou numa
propaganda televisiva de uma marca de cigarros que queria se
firmar no mercado tabagista nacional.
A
frase de efeito usada para alavancar a peça de marketing, falava em
“levar vantagem em tudo”, o que, com o passar do tempo, foi
entendido pela população como uma tendência nada comprometida com
as posturas de ética e de moralidade que todos deveríamos primar
por adotá-las.
Ainda
hoje o craque lamenta ter emprestado o seu nome e a sua imagem para
algo que, no final das contas, aponta para o lado menos meritório de
uma parcela da população que adota a desonestidade como jeito de
levar vantagem perante as instituições governamentais ou privadas,
e até entre as pessoas.
No
mundo, a corrupção tem emporcalhado a imagem de nações inteiras,
de personagens famosos, e levado fome e miséria por onde conseguiu
se instalar.
O
Brasil vivencia o fenômeno das crises em cascata, ou seja, das
crises que geram tantas outras.
Sonhar
com a ausência dos percalços morais de uma sociedade é legítimo,
já que em outras plagas do planeta, a honestidade parece ser, além
de um dever, um dom.
Pôr
em prática as posturas psicológicas sugeridas pela Teoria Humanista
dos notáveis psicólogos norte-americanos Carl Ransom Rogers
(1902-1987), e Abraham Harold Maslow (1908-1970), ou seguir quaisquer
outras orientações moralizantes, filosóficas ou religiosas, em
determinadas ocasiões, podem representar um sério desafio para quem
ainda transita com os olhos arregalados pela cobiça de em tudo ver
um trampolim para engordar as contas bancárias, ou de alcançar
rápido sucesso, mesmo que cumpliciando-se com a trapaça. Ser ou não
ser honesto quando tanta impunidade ainda reina por aqui?
Não
é à toa que uma multidão não faça a menor cerimônia de declarar
apoio aos contumazes corruptos e corruptores de sempre, e àqueles
outros que ainda estão enrustidos.
As
tensões de viver num ambiente gerador de escândalos, e que tem
agregado a falta de ética como padrão institucionalizado, é uma
verdadeira seção de atrapalhos.
Quem
trilha pelos caminhos do humanismo, ou de qualquer outro ditame
moral, pode até sentir-se em descompasso com o pensamento de muitos
formadores de opinião, e de outros tantos líderes negativos.
A
crise moral, instituída em nosso território, e em terras além das
nossas fronteiras, abarca e atinge parte da população mundial,
dando até a impressão que a parcela de honestos e de boa índole
esteja equivocada por assumir a honradez acima de tudo.
Existem
crises que maltratam muita gente, mas também existem várias
alternativas para amenizarem-se, por exemplo, as crises emocionais
que circundam o mundo exterior de cada cidadão de bem, ou ajudar a
superá-las; uma delas está na prática da Teoria Psicológica
Humanista.
A
seu turno, Rogers sugere que todo ser humano tem em si a capacidade
de ser bom, de amar, e de bem equacionar os seus problemas (as suas
crises).
Maslow,
por sua vez, aponta para uma certa hierarquia das necessidades
humanas, que devem ser superadas pela via da compreensão e do
respeito interpessoal, da vida aprumada e nivelada com o que é bom,
útil e legal.
Um
dos grandes feitos de Maslow foi dar uma forma esquemática às
necessidades humanas, apresentando-as numa pirâmide que leva o seu
nome, cujos patamares superiores, em princípio, só serão
alcançados após se conquistarem aqueles mais próximos da base, sob
pena de se vivenciarem, também, crises existenciais.
Para
explicar melhor, a tal pirâmide organizada por Maslow, estudada,
criada e proposta na década de 50, com os seus 5 níveis de
necessidades, sobreposto em três blocos (das necessidades BÁSICAS,
PSICOLÓGICAS e de AUTORREALIZAÇÃO), vai aqui um resumão dela: na
base estão as necessidades FISIOLÓGICAS do ser humano (a
respiração, a comida, a água, o sexo, o sono, o equilíbrio do
funcionamento interno do corpo, a excreção, entre outros). Logo
acima vem o patamar da SEGURANÇA da pessoa, como o emprego, os
recursos, a moralidade, a família, a saúde, a propriedade, o
bem-estar enfim. Quem conquista esses dois primeiros degraus,
procurará subir um pouco mais, para alcançar o das RELAÇÕES SOCIAIS, em busca da amizade, da formação e consolidação
da família, bem assim, da intimidade sexual. A próxima conquista é
a da ESTIMA, isto é, da autoestima, da confiança, do respeito dos
outros, e do respeito aos outros. Por derradeiro, chega-se ao topo,
na tão cobiçada REALIZAÇÃO PESSOAL, calcada na moralidade, na
criatividade, na espontaneidade, na habilidade para a solução dos
problemas, nos ajustes para manter-se ausente de preconceitos, e para
a aceitação dos fatos.
Deixar
para trás a tentação de querer em tudo levar vantagem, parece ser
um fator dissuasivo das crises, ou uma atenuante para os apuros ou
dificuldades próprias do ato sublime de viver, conviver e
sobreviver.