Pesquisar este blog

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

AS FILHAS DEVASSAS DA MENTIRA




Nos últimos tempos a palavra crise tem sido uma das mais pronunciadas no território brasileiro. Acima dela está o vocábulo corrupção, que de tão indigna e abjeta, nem merece ser qualificada como vocábulo, mas como depravação pura e simples, imoralidade mesmo, perversão, deterioração, putrefação do tecido social.
No caso brasileiro, os rombos incalculáveis nos cofres públicos, a falência do sistema de saúde e da educação, da previdência social, da segurança, dos valores morais de muitos cidadãos brasileiros, ocorrem como consequência da gana desesperada de se querer levar vantagem em tudo, e sem a menor preocupação com ferir-se ou não as leis e os direitos individuais. Douram-se as pílulas venenosas da maldade desenfreada com as meias-verdades dos direitos humanos, mas por outro lado, roubam-se desses mesmos seres a dignidade de serem respeitados e bem acolhidos pelo famigerado SUS, ou nas escolas que estão aos cacos, ou ainda por qualquer um dos órgãos públicos sucateados e repletos de funcionários mal pagos e sem ânimo para evoluir na carreira.
Corruptos e corruptores costumam repetir suas mentiras como um mantra, na tentativa de as perpetuar como se verdades fossem. E para dar solidez a essa espécie de obsessão, afundam-se em outras tantas inverdades. Para eles, o que mais importa é levar vantagem em tudo e a qualquer custo, mesmo que atropelem as leis e os direitos alheios. O corrupto, “padrão mentiroso compulsivo”, na sua essência, assemelha-se a um psicopata que, de tão compenetrado em manter as aparências de pessoa ilibada, surpreende a muitos quando o escândalo vira notícia.
A mentira é fértil geradora das corrupções e das crises consequentes dela.
Talvez, alheio aos estudos da psicologia, Gérson, o famoso meia-armador da seleção canarinho de futebol, tido como o “cérebro do time brasileiro campeão da copa do mundo de 70”, quando corria o ano de 1976, atuou numa propaganda televisiva de uma marca de cigarros que queria se firmar no mercado tabagista nacional.
A frase de efeito usada para alavancar a peça de marketing, falava em “levar vantagem em tudo”, o que, com o passar do tempo, foi entendido pela população como uma tendência nada comprometida com as posturas de ética e de moralidade que todos deveríamos primar por adotá-las.
Ainda hoje o craque lamenta ter emprestado o seu nome e a sua imagem para algo que, no final das contas, aponta para o lado menos meritório de uma parcela da população que adota a desonestidade como jeito de levar vantagem perante as instituições governamentais ou privadas, e até entre as pessoas.
No mundo, a corrupção tem emporcalhado a imagem de nações inteiras, de personagens famosos, e levado fome e miséria por onde conseguiu se instalar.
O Brasil vivencia o fenômeno das crises em cascata, ou seja, das crises que geram tantas outras.
Sonhar com a ausência dos percalços morais de uma sociedade é legítimo, já que em outras plagas do planeta, a honestidade parece ser, além de um dever, um dom.
Pôr em prática as posturas psicológicas sugeridas pela Teoria Humanista dos notáveis psicólogos norte-americanos Carl Ransom Rogers (1902-1987), e Abraham Harold Maslow (1908-1970), ou seguir quaisquer outras orientações moralizantes, filosóficas ou religiosas, em determinadas ocasiões, podem representar um sério desafio para quem ainda transita com os olhos arregalados pela cobiça de em tudo ver um trampolim para engordar as contas bancárias, ou de alcançar rápido sucesso, mesmo que cumpliciando-se com a trapaça. Ser ou não ser honesto quando tanta impunidade ainda reina por aqui?
Não é à toa que uma multidão não faça a menor cerimônia de declarar apoio aos contumazes corruptos e corruptores de sempre, e àqueles outros que ainda estão enrustidos.
As tensões de viver num ambiente gerador de escândalos, e que tem agregado a falta de ética como padrão institucionalizado, é uma verdadeira seção de atrapalhos.
Quem trilha pelos caminhos do humanismo, ou de qualquer outro ditame moral, pode até sentir-se em descompasso com o pensamento de muitos formadores de opinião, e de outros tantos líderes negativos.
A crise moral, instituída em nosso território, e em terras além das nossas fronteiras, abarca e atinge parte da população mundial, dando até a impressão que a parcela de honestos e de boa índole esteja equivocada por assumir a honradez acima de tudo.
Existem crises que maltratam muita gente, mas também existem várias alternativas para amenizarem-se, por exemplo, as crises emocionais que circundam o mundo exterior de cada cidadão de bem, ou ajudar a superá-las; uma delas está na prática da Teoria Psicológica Humanista.
A seu turno, Rogers sugere que todo ser humano tem em si a capacidade de ser bom, de amar, e de bem equacionar os seus problemas (as suas crises).
Maslow, por sua vez, aponta para uma certa hierarquia das necessidades humanas, que devem ser superadas pela via da compreensão e do respeito interpessoal, da vida aprumada e nivelada com o que é bom, útil e legal.


Um dos grandes feitos de Maslow foi dar uma forma esquemática às necessidades humanas, apresentando-as numa pirâmide que leva o seu nome, cujos patamares superiores, em princípio, só serão alcançados após se conquistarem aqueles mais próximos da base, sob pena de se vivenciarem, também, crises existenciais.
Para explicar melhor, a tal pirâmide organizada por Maslow, estudada, criada e proposta na década de 50, com os seus 5 níveis de necessidades, sobreposto em três blocos (das necessidades BÁSICAS, PSICOLÓGICAS e de AUTORREALIZAÇÃO), vai aqui um resumão dela: na base estão as necessidades FISIOLÓGICAS do ser humano (a respiração, a comida, a água, o sexo, o sono, o equilíbrio do funcionamento interno do corpo, a excreção, entre outros). Logo acima vem o patamar da SEGURANÇA da pessoa, como o emprego, os recursos, a moralidade, a família, a saúde, a propriedade, o bem-estar enfim. Quem conquista esses dois primeiros degraus, procurará subir um pouco mais, para alcançar o das RELAÇÕES SOCIAIS, em busca da amizade, da formação e consolidação da família, bem assim, da intimidade sexual. A próxima conquista é a da ESTIMA, isto é, da autoestima, da confiança, do respeito dos outros, e do respeito aos outros. Por derradeiro, chega-se ao topo, na tão cobiçada REALIZAÇÃO PESSOAL, calcada na moralidade, na criatividade, na espontaneidade, na habilidade para a solução dos problemas, nos ajustes para manter-se ausente de preconceitos, e para a aceitação dos fatos.

Deixar para trás a tentação de querer em tudo levar vantagem, parece ser um fator dissuasivo das crises, ou uma atenuante para os apuros ou dificuldades próprias do ato sublime de viver, conviver e sobreviver.



sábado, 2 de dezembro de 2017

ANGÚSTIAS E ANSIEDADES (BOAS E MÁS)


Entre os meses de novembro de 1998 e fevereiro de 1999, Amyr Klink, então com 44 anos de idade, deu uma volta ao mundo pela rota mais perigosa: os mares que rodeiam a Antártida.
Cruzar o oceano Atlântico sozinho, e no braço, remando e superando os desafios que uma aventura desse porte possibilita, não é pouca coisa.
Numa de suas declarações o navegador disse que “no fim da travessia, sentia uma mistura de cansaço e prazer que deve ser parecida com o que sente um maratonista quando está percorrendo seu último quilômetro numa corrida. Ele até pode estar sentindo dor, mas já vê o fim da prova”. Dessa ansiedade, Amyr gostou. Quer dizer, há momentos na vida em que apreciamos o futuro incerto e perigoso, e sentimos um certo prazer. Os atletas de esportes radicais experimentam esse tipo de ansiedade boa.
Quem viaja sozinho em um barco, não tem tempo de sentir solidão, e a ansiedade ruim não encontra campo fértil numa mente que gosta do que está fazendo, e nem percebe o ambiente solitário como monótono.
Só para lembrar de outros solitários do mar, vale registrar a performance dos jangadeiros nordestinos e pescadores em geral, que aventuram-se mar adentro em busca de seus produtos. Eles sabem que, embora o espaço físico da jangada ou barco seja exíguo, sempre haverá um monte de coisas para serem feitas, e que elas ajudam a passar o tempo, a dissipar a solidão, e a ansiedade também.
Os romancistas e escritores solitários, que têm prazo para entrega dos seus textos, gostam dessa solidão, da ansiedade gerada pelo desafio de produzirem boas matérias escritas, mas podem experimentar uma certa angústia quando, por exemplo, justamente as melhores ideias estejam aflorando, e o computador travar e não se conseguir mais voltar à normalidade.
Mas, nesse ramo de atividade há também os jornalistas, que amam o borborinho de uma redação agitadíssima, com as naturais ansiedades de ver o tempo passar e tudo ter que estar pronto, com hora marcada para ser publicado (com a possibilidade de surgirem novos fatos em cima da hora, e ter que se refazer todo material já escrito). Aqui ficam bem caracterizadas a ansiedade (“o tempo passa e o texto ainda não está pronto, consequentemente, a divulgação estará ameaçada num futuro que se aproxima”), e a angústia, pelo fato de ter que produzir num ambiente agitado, e ter que focar no tema central do texto, enfim, de concatenar bem as ideias, com começo, meio e fim, sob forte pressão.
Evidencia-se, então, que ansiedade e angústia se confundem, mas não são sinônimas.
Para Freud, a angústia do nascimento, provocada pela separação do novo ser que aparta-se do corpo da mãe, é a manifestação mais primitiva desse sentimento. Quer dizer, a angústia nossa de cada dia, já nos acompanha há algum tempo, e não nos abandonará “até o último suspiro”.
As incertezas conjunturais, tanto no Brasil quanto no mundo, nós coloca imersos numa crise política, social e econômica sem precedentes, o que preocupa de um modo geral a sociedade brasileira, trazendo mal-estar para todos nós. Nessa circunstância, e no contexto global, a ansiedade (clima de apreensão exagerada em relação ao futuro), é potencializada, e a angústia (aflição relacionada ao presente), também ganha destaque.
Há quem afirme que ansiedade e angústia são as mesmas coisas, e há quem bem defina ambas, e mostre que não é bem assim. Enquanto a ansiedade se estabelece em razão das apreensões exageradas com as coisas que ainda não aconteceram, que ainda fazem parte do futuro, a angústia se refere a uma aflição relacionada com o agora.
Também, segundo a concepção psicanalítica freudiana, são três os tipos de ansiedades: a realística (gerada por um tipo de medo de alguma coisa do universo de fora da pessoa, como a expectativa de estar fazendo algo que resulte em punição); a moral (consequente ao medo de ser punido, e sentir culpa); e neurótica (um medo inconsciente, que não se sabe a razão).
Contudo, há pessoas que adaptam-se a atividades profissionais, voluntárias, ou recreativas, necessariamente solitárias, e elas gostam do que fazem, manejam com certa facilidade, e habilidade, tanto a angústia, quanto a ansiedade, sem sentirem monotonia.
Segundo William H. Frey, bioquímico, professor do Departamento de Neurologia da Universidade de Minnesota e autor do livro “Chorando, o segredo das lágrimas”, homem que é homem não chora feito mulher, isso porque, das glândulas lacrimais, responsáveis pelo choro, é que se expele o hormônio prolactina, que existe em quantidade muito maior nas lágrimas das mulheres. A prolactina, como o próprio nome indica, é fundamental para a produção de leite durante a amamentação. Em suas pesquisas, Frey teve a oportunidade de tratar pessoas deprimidas com o hormônio dopamina, que inibe a prolactina. Resultado: as crises de choro dos pacientes diminuíram, comprovando a ligação entre esse hormônio predominantemente feminino e as lágrimas.
Do estudo, constatou-se que mulheres que choram quando são afetadas por algum tipo de sentimento motivador do pranto, tendem a serem mais felizes do que se não chorassem. Dito de outro jeito, quem derrama mais lágrimas, tende a se sentir mais aliviado.

Frey constatou que pela lágrima são eliminadas certas substâncias químicas que causam a ansiedade. Isso explica a sensação de alívio que muitas vezes se segue a uma boa sessão de choro.