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sexta-feira, 26 de julho de 2019

SOBREVIVENDO COMO PRESIDIÁRIO NO JAPÃO


De sã consciência, ninguém deve dizer "dessa água nunca beberei". Mas, uma reportagem divulgada pela BBC NEWS - BRASIL comenta sobre a nova onda dos aposentados no Japão, que esforçam-se bravamente para serem presos.

Para uma pessoa preferir a prisão a liberdade, é de se supor que a vida relacional dela esteja completamente deteriorada e muito difícil de ser administrada.

E aí, conjecturar, buscar culpas e culpados, são outros quinhentos. De qualquer forma, no caso, se matar ou agredir outrem para tentar sair do sofrimento são opções terríveis, lamentáveis.


Enquanto para uns o que encanta na vida são os movimentos que os desafios propiciam (na esperança de superá-los), para outros o pacote de felicidade (ociosa) deveria vir até aberto, para não dar trabalho. 

Todo ser humano sente necessidades, que podem ir das mais básicas, fisiológicas mesmo, até aquelas que lhe dá status social, profissional e ou econômico. O inusitado dessa eterna garimpagem de metas e objetivos ou desejos que abrandam o sofrer, e traz algum alento na vida, pode ser como a solução encontrada por vários aposentados no Japão, como é o caso do seu ToshioTakata, de 69 anos de idade.



terça-feira, 23 de julho de 2019

DO TEMPO EM QUE FOMOS COVARDES

Algumas organizações religiosas, políticas e sociais nos induz à covardia, anulando a nossa autoestima, sobrepondo um semideus, um líder político, e minimizando o indivíduo.
A autoestima é a chave para o sucesso.
 
.x.x.x.x.x.x.

PRECISAMOS ADMITIR:  NÓS FOMOS COVARDES!

Passamos - e as nossas famílias - pelo governo da esquerda durante 16 anos de nossas vidas!
16 anos não é pouco - para muitos é uma vida inteira ou a metade dela.

Esse governo passou em brancas nuvens, SEM OPOSIÇÃO.

Fez o que quis, "deitou e rolou" com o dinheiro público -  e com a nossa anuência covarde!

Acreditávamos e esperávamos, burramente, que o PSDB, ou outros partidos,  lhe fizesse oposição. Isso nunca aconteceu, naturalmente, porque são cúmplices de tudo.

- Assistimos ao processo do Mensalão, estarrecidos, mas de camarote, esperando que a Justiça fizesse justiça.

- Ficamos pasmos ao ver os criminosos, "guerreiros do povo brasileiro", com o punho ao alto, desafiando a Justiça e os brasileiros que prestam. Mas foi uma indignação silenciosa.

- Vimos o inchaço dos ministérios e órgãos públicos com pessoas incompetentes e corrompidas. Sofremos com eles, mas ficamos calados.

- Vimos nossas escolas e hospitais se deteriorarem e nosso povo sofrido ser torturado. Nos indignamos, mas nada fizemos.

- Vimos a compra e venda abomináveis e inconstitucionais de apoios de parlamentares a medidas funestas. Mas não reagimos.

- Vimos os filhos do Lula enriquecerem absurdamente e instantaneamente, mas nos calamos diante  da explicação mais absurda ainda, risível e cúmplice do pai.

- Vimos a inércia do Governo petista, que se furtou a peitar as  reformas estruturais tão necessárias ao país (agrária, política, do trabalho, da previdência) porque seriam impopulares e poderiam entravar seu "projeto de poder". Mas ficamos só observando...

- Vimos o Lula receber títulos de "doutor honoris causa" pelo mundo afora, sem nada entender, porque esse senhor se arvorava de ser analfabeto e lançou um tal programa "fome zero" que foi só engodo. Mas ficamos quietos.

- Vimos a Dilma expelir suas insanidades e idiotices, num português miserável, mas só nos divertimos com isso.

- Vimos nossos pobres ficarem endividados até os fios de cabelo, devido a  uma medida populista e demagógica do governo, que lhes "garantiu" as dívidas e os abandonou.

- Vimos os princípios e valores éticos e morais mais caros à família brasileira serem vilipendiados, estuprados, debochados e combatidos pelos "progressistas".  Mas não brigamos por eles.

- Enfim, nós assistimos e não reagimos à ruína social, moral, econômica e cultural de nosso país.

NÓS FOMOS COVARDES!


Foi preciso que um corajoso e iluminado juiz federal de primeira instância, de Curitiba, e um militar parlamentar rebelde e igualmente corajoso de 3o. escalão do Exército (em quem, confesso, não depunha muita fé) nos despertassem e nos encorajassem a nos rebelar contra o status quo que nos fazia sofrer e destruía nosso país.

Não os tenho como deuses infalíveis. Eles hão de errar certamente - e eu lhes permito, porque sei que não terão nenhum problema em corrigir suas falhas. São seres humanos que acertam e erram. Mas são dignos da minha mais profunda reverência pelo que são e pelo que fazem, pelo seu caráter e pela sua idoneidade.
Peço a Deus que os proteja e ilumine!

Leila Salomão Jacob Bisinoto
Professora Universitária, e Doutora
(março de 2019)



segunda-feira, 22 de julho de 2019

CONVIVENDO COM O INIMIGO

Em 2017 o Diário Catarinense colocou sua equipe de jornalistas na estrada e no rumo da área rural do Estado. Objetivo: conferir denúncias de trabalhadoras rurais  submetidas à cultura de dominação masculina marcada por agressões físicas, psicológicas, torturas e abusos sexuais.

Conforme diz o texto introdutório da reportagem multimídia "Sozinhas", as mulheres do campo, sozinhas e sem vizinhos, em lugares com dificuldades de comunicação, distantes de serviços de proteção, como polícias e abrigos, elas enfrentam uma realidade marcada pela intolerância que muitas vezes resulta em feminicídios.

Deletar o passado que incomoda, nem sempre é possível.

No caso das mulheres que sofreram abusos morais, sexuais, violência física, e que perderam a autonomia, que viveram diariamente subjugadas, sem voz e com muito medo, elas terão grandes dificuldades para desfazerem-se de sentimentos como medo, menos-valia, culpa, vergonha, ansiedade, angústia, e muitos outros de uma lista imensa (todos eles em graus intensos).

No Brasil, e muito provavelmente em outros pontos do planeta, o fato ocorre com semelhantes ou até maiores intensidades e consequências, já de forma recorrente e tradicional.

Homens e mulheres (muito mais aqueles do que estas), têm demonstrado muita disciplina e perseverança quando se trata de propiciar meios para desgraçar a vida da outra pessoa. Evidente que, independente do sexo, felizmente é imenso o contingente de criaturas dignas do adjetivo "gente boa, e amiga".


Tanto o vídeo ("Sozinhas" - Violência contra mulheres que vivem no campo)  quanto o texto que completam a reportagem premiada do Diário Catarinense, falam por si mesmos e nos oferecem um olhar amplo do problema que não deve continuar escondido.

Já no âmbito geral de atuação e convivência, um documentário muito bom, esmiúça o drama vivido por mulheres que conviveram com seus algozes, verdadeiros psicopatas travestidos de companheiros ou maridos, os quais produziram danos psicológicos quase sempre irreparáveis, ainda que, digamos, passíveis de serem mascarados pelas vítimas no sentido de tocarem a vida aparentando como se nada tivesse ocorrido (embora, décadas depois, de modo inopinado, palavras, fatos ou circunstâncias tragam à tona todo o drama duramente sofrido).







  

sábado, 20 de julho de 2019

A GÊMEA CENTENÁRIA


As propagandas, numa determinada época, quando percebidas mais à frente, num futuro distante, servem para se mensurarem os valores de um período histórico, as preferências, os hábitos, o contexto e as circunstâncias sociais, políticas, religiosas, enfim, podem, em boa medida, retratar um momento de um povo.

A década de 1910 reuniu produtos curiosos em relação aos padrões atuais: a Succulina, usada no combate à calvície; o Salkinol, que prometia combater a urucubaca (a má sorte, o azar, a ziquizira), a influenza, a tosse rebelde, bronquites, asma e desinfectava os pulmões; o chocolate Lacta (que apelava na propaganda, dizendo que “o médico legista constatou que a morte do cadáver foi devido a ele não ter feito uso do delicioso chocolate”; as cervejas Supimpa (da Brahma), e a Rainier (que garantia que era “benéfica para jovens e idosos”); o Vigonal, um calmante cuja extensa propaganda dizia que “o pessimista é uma criatura indesejável no lar, na sociedade e nos centros de trabalho, porque as suas opiniões são sempre negativas. Vê tudo negro! Entretanto, o pessimista não tem culpa de ser assim... São os nervos esgotados os verdadeiros responsáveis pelo seu estado. Vigonal é o reconstituinte indicado. Vigonal nutre as células do cérebro, enriquece o sangue, recalcifica os ossos, promove a perfeita assimilação dos alimentos. Faz aumentar vários quilos em poucas semanas. Inicie imediatamente o uso de Vigonal e seja otimista, para ser bem-vindo em toda a parte”; e, o Vinho Caramuru (indicado “para fraqueza genital, para os que estão no ocaso da vida, para combater a falta de memória, a insônia, a neurastenia, e a espermatorreia”).

        1914 foi o ano em que a publicidade profissional iniciou formalmente no Brasil. Na ocasião, foi inaugurada em São Paulo a agência “Eclética”, com um portfólio de marcas famosas: Ford, Texaco, Sabonetes Lux, Palmolive, e Eucalol, Guaraná Champagne, Maizena, creme dental Kolinos, canetas Parker, Gillette, Aveia Quacker, e Biscoitos Aymoré. 





Paralelamente, os governos de um modo geral, juntos aos estrategistas militares, empenhavam-se na propaganda da 1ª Guerra Mundial, quando, por exemplo, distribuíram posters com os dizeres: “Por que eu não vou? O 148º Batalhão precisa de mim.”; “Quatro razões para comprar bônus de guerra”; “Preserve os produtos perecíveis. Se você tem um pomar, você deve fabricar conservas”…

  Em meio às terríveis consequências daquele primeiro grande conflito mundial, das epidemias de sífiles, varíola, e gripe espanhola, amontoaram-se cadáveres, e o trágico resultado disso, foram 65 milhões de vidas humanas ceifadas, somente entre 1914 e 1918.


Como não poderia deixar de ser, e como ainda hoje ocorre, o êxodo, a fuga de famílias em busca de paz e meios de subsistência, foi a alternativa que representava uma boa dose de esperança, ainda que se vislumbrasse um futuro de esforços redobrados, dificuldades de recomeço, e readaptação. 







Aqui, no Sul do Brasil, quatro municípios quase que vizinhos, em território catarinense, nasceram no ano de 1917: Chapecó, Joaçaba, Mafra, e Porto União. Esta última surgiu com o dom de unir povos, de geminar-se a outro município (União da Vitória), como resposta às disputas territoriais, como a exaltar todas as vitórias humanas, ainda que tenha sido fundada em 05/09/1917, em pleno borborinho político e social que todos os conflitos armados propiciam.

(fotos de Claro Jansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/


Nesse quadro, quando voltamos o olhar ao passado, além do nosso próprio passado, quando exercitamos a reflexão em torno de nossos antepassados, daqueles que, de alguma forma, em qualquer instância, em qualquer lugar do mundo, trabalharam pela vida, pela perpetuação da espécie, com ou sem vínculo de parentesco, é preciso reverenciar o denodo, a coragem, as iniciativas daquela gente.

(fotos de Claro Jansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/





Olhando de longe, ainda assim, dá para imaginar o esforço, as aventuras e desventuras, o cansaço, a quase exaustão de caminhar na direção do desconhecido (computados os medos, as incertezas, as saudades, as parcelas de vida que tiveram que ser deixadas para trás, o recomeçar).

                                          (fotos deClaroJansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/


Caminhar nos dias atuais em busca de melhorias de vida, não é coisa simples, todos o sabemos. Caminhar no mesmo sentido há cem anos da tecnologia da velocidade dos tempos de agora, é outra coisa. Seguir a estrada, ou por outra, confrontar mares bravios, em busca de incertezas, e ter que olhar pela vida dos familiares de maior e ou de tenra idade, no início do século XX, sem expectativa de descanso ou trégua, é um feito digno de todas as reverências, dos mais expressivos monumentos ou obeliscos.

Aquele povo, do início do século XX, exausto pelos repuxos da vida, certamente, não teve tempo de reflexionar o suficiente para economizar gastos com casas, ruas, estradas, fábricas, e toda a estrutura que acabaram por deixar para nosso usufruto agora, em 2017. Sangue, suor e lágrimas regaram os seus caminhos.
                       (fotos deClaroJansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/




Porto União, a bela e acolhedora Porto União, terra de gente trabalhadora, produtiva, hospitaleira, tem todo direito, e o dever, de reverenciar os seus antepassados, em grande, e no melhor estilo.



Vistas de cima, Porto União (SC) e União da Vitória (PR), as Gêmeas do (Rio) Iguaçu.








CULPAS E CULPADOS


Na Indonésia, em 2013, Mita Diran, a jovem e simpática redatora da agência Young & Rubicam morreu por causa de uma overdose de trabalho: ela manteve-se em atividade, ininterruptamente, durante 3 dias. Para ficar “acesa”, ela fizera uso da bebida energética Krating Daeng, uma versão tailandesa do Red Bull. O coração de Mita não teria resistido à combinação, segundo informações de imagem publicada no site Venusbuzz. No mesmo ano, desta feita em Londres, um estagiário do Bank of America, de 21 anos de idade, que sofria de epilepsia, também veio a falecer por excesso de trabalho, virando três noites seguidas “no batente”.


Culpar-se por não conseguir atingir metas humanamente inatingíveis, pode levar a situações semelhantes a estas, em que, para escapar da pecha de incompetente, ou preguiçosa, a pessoa entra num redemoinho de ações, e num irracional esforço para demonstrar que é capaz, como se capacidade fosse só quantidade de horas trabalhadas.

Há um destacado grupo de pessoas que tendem a acatar e absorver todas as culpas do mundo; e que não precisam nem que alguém as acuse, pois elas mesmas se encarregam disso. Essas são criaturas que se sobrecarregam em demasia, e que por isso sofrem muito além do suportável. O natural delas é estar sempre se cobrando, e até “queimando o próprio filme”, arriscando-se a verbalizar críticas pesadas sobre elas mesmas, condenando-se com facilidade, sempre buscando uma perfeição que parece inatingível. São indivíduos que não conseguem estabelecer limites nem prioridades, e quando tentam balizar seus universos de atuações, vivenciam o martírio da culpa de não produzirem os resultados esperados.

Para quem erra deliberadamente, e sempre encontra argumentações para explicar e até justificar os seus próprios erros, a culpa deles só existe na cabeça das outras pessoas. Para aqueles que pisam na bola por descuido ou imperícia, o equívoco pode surpreender a eles mesmos, constrangê-los, envergonhá-los, e entristecê-los. Para os cabeças duras, que não fazem as coisas certas, mas que defendem com unhas e dentes que estão corretos, aceitar a culpa é algo quase que impensável.

O fato é que, por arrogância, empáfia, constrangimento, vergonha, medo, deslealdade, infidelidade, e por muitas outras razões, assumir a autoria de qualquer transgressão voluntária, ou não, para muita gente é experimentar um sentimento incômodo e doloroso. Não resta dúvida de que, qualquer que seja a motivação que respalde a tentativa de negar a culpa, todo esse rol dos sentimentos derivados dela permanece martelando as suas mentes.

Não é fácil se encontrar quem reconheça, com naturalidade, a autoria de um ato equivocado, que aceite o próprio erro como aprendizado, que se predisponha a reorganizar os pensamentos e ações, no sentido de prosseguir na caminhada sem traumas, acolhendo a experiência com a intenção de acrescer conhecimentos, ampliando a própria sabedoria.

No emaranhado de culpas e culpados, porém, existe um aspecto curioso que interessa comentar: trata-se das expressões “culposo” e “doloso”, que se referem a crimes praticados sem a intenção de matar, ou que tenha sido premeditado pelo criminoso, e que os jornalistas, provavelmente seguindo as regras dos manuais de redação ou de telejornalismo, repetem como um mantra, para traduzir o significado do juridiquês para o português do dia a dia. Nisso, apesar de ser uma chatice sem medida, não há porque culpar os profissionais da imprensa.

Num outro ângulo da apreciação do termo, vale lembrar que há apelações em tribunais para que pessoas acusadas de crimes tidos como cruéis sejam inocentadas porque, segundo os advogados de defesa, seus clientes agiram sob a influência de “violenta emoção”, notadamente nos crimes passionais, em que a paixão dá lugar a ira incontrolável.

Saindo do âmbito do juridiquês, conforme consta nos dicionários, a culpa pressupõe responsabilidade por algo, condenável ou danoso, causado a outrem; transgressão; crime, delito; atitude ou omissão que possa causar dano ou desastre a outrem; ato voluntário que evidencia imprudência, imperícia ou negligência e provoca dano ou dolo a outrem; falha deliberada no cumprimento de um dever ou de um princípio ético; responsabilidade por ato de transgressão de preceitos religiosos ou morais; pecado; e consciência penosa por ter falhado no cumprimento de uma norma social ou moral.

Nessa salada conceitual linguística, transitando também pelas ciências do Direito e da Psicologia, dá para perceber que existem alguns tons de culpa, e que, nem sempre o “culpado” é culpado, principalmente quando se soma a isto alguns aspectos das emoções e dos sentimentos, colocando subjetividade na questão.


Pessoas que carregam o fardo pesado da culpa autoatribuída, muitas vezes injusta, tendem a sofrer com a autoestima baixa, e são propensas a estados importantes de depressão. Nesse contexto, é forçoso lembrar que este é, como tantos outros, um comportamento que pode ter origens remotas, lá na infância ou na adolescência, em razão de circunstâncias educacionais, de tradição, de religião, de aquisição de hábitos e costumes herdados ou assimilados de parentes ou pessoas outras.

Para tentar escapar da culpa que parece teimar em lhes perseguir, pessoas, ora trabalham em excesso, ora elegem outros mecanismos de autodefesa os mais curiosos; ora se recolhem na solidão, ora tentam transferir culpas, ou se vitimizam, saltitando entre sentimentos consequentes ou derivados das transgressões praticadas, reais ou imaginárias.

Por fim, para não deixar de lado aqueles que preferem ver as coisas pelo lado filosófico, vale lembrar dos que defendem que não existe nem culpa nem culpados. Segundo essa concepção, tanto a culpa quando o dolo, podem ter as suas raízes nos hábitos e costumes ancestrais adquiridos através das tradições, das educações e orientações recebidas, do contexto e das circunstâncias históricas, políticas, familiares, profissionais, escolares etc. Seríamos, assim, uma espécie de vítimas, em vez de réus.





INGRATOS E INGRATIDÕES


Não precisa ser um especialista em estatística para descobrir que cerca de 90% das pessoas, no mundo, produzem atos de ingratidões, explícitas, implícitas, premeditadas ou não. 
Lembro de uma citação evangélica em que é narrado um episódio no qual Jesus curou dez leprosos e somente um, teve a honradez de voltar para agradecer 
(os outros 9 esqueceram-se ou fizeram-se de esquecidos da ajuda recebida).


Não sei se é verdade, mas já ouvi falar que Francisco de Assis, o santo, também sofria com a ingratidão de seus assistidos quando, por mais esforço que fizesse para tudo sair no capricho, com o seu grupo de abnegados e caridosos, não raras vezes, ouviu reclamações sobre o tempero da sopa.

A ausência do sentimento sincero por parte de alguém que recebeu algum favor, auxílio ou benefício, só não afeta a quem é santo.

Quem será que desconhece as inúmeras cenas de ingratidão de filhos contra pais, cônjuges contra cônjuges, patrões contra empregados, empregados contra patrões, empregados contra empregados, enfim, gente contra gente?…

Entretanto, no grupo dos políticos, a depender dos interesses em jogo, e da dimensão do caráter traiçoeiro do ingrato, ações desse porte é que não faltam. E isto acontece sem meias palavras, à vista de todos: basta acompanhar os acontecimentos através das emissoras de televisão das assembleias, das câmaras, e do senado (para não ir mais longe).

Entre muitos outros, destacou-se recentemente, através da imprensa, um caso curioso de ingratidão reconhecida publicamente (além do vergonhoso e nefasto alcance dos atos de corrupção nele contido, e que assola o país). Refiro-me a reclamação declarada formalmente nos autos da Operação Lava Jato, na qual o ex-diretor superintendente da Odebrecht Ambiental/Saneatins, Mário Amaro da Silveira, afirma o seu desconsolo em razão da doação de R$ 500 mil feita à senadora Kátia Abreu, sem a contrapartida esperada, conforme evidenciou o delator: “ela nunca fez nada por nós no Tocantins”.

Contudo, para que eu também, no momento em que escrevo este artigo, não incorra em ingratidão ou falta de reconhecimento para com o Poder Legislativo do meu País, é forçoso lembrar de que, pelo menos uma vez, a falta de gratidão é mencionada e até punida em lei: trata-se dos artigos 557 a 561 do Código Civil promulgado em 10/01/2002, em que refere a “revogação de doações no caso de ingratidão do donatário”. Inclusive, considera-se também a possibilidade dos ingratos atentarem contra a vida dos doadores, ou cometerem homicídio doloso contra eles, ofensas físicas, injúria grave ou calúnia. Nem sempre é possível se anular uma benfeitoria realizada espontaneamente, e de forma alguma é possível retroceder o tempo para se desfazer a boa ação irreconhecida.

A ingratidão não só rima com frustração, desilusão, decepção, e traição, mas também faz coro com a covardia, a falta de caráter, e a indigência moral.

Quando a falta de reconhecimento é premeditada, indigna, e assemelha-se a um inesperado escarro insultuoso na direção da vítima.

Entretanto, como qualquer ação, no caso dos ingratos, essa atitude reflete a índole traiçoeira, e traduz o seu descompromisso com a decência e com a ética.

É inescapável: um ingrato proposital também é um desonesto (nem que seja no campo da moralidade, mas é).

A confiança é uma conquista moral que referenda e dá o aval de honorabilidade a quem é digno dela. Quem articula cenas premeditadas de ingratidão, somente para tentar anular a outra pessoa, antes dessa ser uma ação defensiva, também retrata pusilanimidade de caráter, descompromisso com a retidão.

A baba venenosa de quem engendra atos de ingratidão que resultem em constrangimento público ou privado, se espraia para além de quem sofre o escárnio, o menosprezo, e atinge todos aqueles que percebam a cena de amoralidade.

Victor-Marie Hugo foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país, e costumava dizer que “os infelizes são ingratos, e isso faz parte da infelicidade deles”.

As atitudes ingratas e, por isso traiçoeiras, não são exclusividades das serpentes mais peçonhentas, nem dos escorpiões, nem das aranhas mais perigosas, mas, infelizmente, pelo poder de racionalizar, o ser humano (?) também, em certos momentos, é tão letal quanto aqueles seres irracionais.