A sensatez é uma pérola rara. O contrassenso destaca-se nos noticiários de todos os dias. Paz é o que se quer, mas as guerras de todos os tipos (de dentro e de fora de todos nós), marcam com traços especiais e peculiares a humanidade.
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quarta-feira, 7 de agosto de 2019
sexta-feira, 26 de julho de 2019
SOBREVIVENDO COMO PRESIDIÁRIO NO JAPÃO
De
sã consciência, ninguém deve dizer "dessa água nunca beberei". Mas, uma reportagem divulgada pela BBC NEWS - BRASIL comenta sobre a nova onda dos aposentados no Japão, que esforçam-se bravamente para serem presos.
Para
uma pessoa preferir a prisão a liberdade, é de se supor que a vida
relacional dela esteja completamente deteriorada e muito difícil de
ser administrada.
E
aí, conjecturar, buscar culpas e culpados, são outros quinhentos.
De qualquer forma, no caso, se matar ou agredir outrem para tentar sair
do sofrimento são opções terríveis, lamentáveis.
Enquanto
para uns o que encanta na vida são os movimentos que os desafios
propiciam (na esperança de superá-los), para outros o pacote de felicidade (ociosa) deveria vir até aberto, para não dar trabalho.
Todo ser humano sente necessidades, que podem ir das mais básicas, fisiológicas mesmo, até aquelas que lhe dá status social, profissional e ou econômico. O inusitado dessa eterna garimpagem de metas e objetivos ou desejos que abrandam o sofrer, e traz algum alento na vida, pode ser como a solução encontrada por vários aposentados no Japão, como é o caso do seu ToshioTakata, de 69 anos de idade.
terça-feira, 23 de julho de 2019
DO TEMPO EM QUE FOMOS COVARDES
Algumas
organizações religiosas, políticas e sociais nos
induz à covardia,
anulando
a nossa autoestima, sobrepondo
um semideus,
um líder político, e minimizando o indivíduo.
A
autoestima é a chave para o sucesso.
.x.x.x.x.x.x.
PRECISAMOS ADMITIR: NÓS FOMOS COVARDES!
Passamos - e as nossas famílias - pelo governo da esquerda durante 16 anos de nossas vidas!
16 anos não é pouco - para muitos é uma vida inteira ou a metade dela.
Esse governo passou em brancas nuvens, SEM OPOSIÇÃO.
Fez o que quis, "deitou e rolou" com o dinheiro público - e com a nossa anuência covarde!
Acreditávamos e esperávamos, burramente, que o PSDB, ou outros partidos, lhe fizesse oposição. Isso nunca aconteceu, naturalmente, porque são cúmplices de tudo.
- Assistimos ao processo do Mensalão, estarrecidos, mas de camarote, esperando que a Justiça fizesse justiça.
- Ficamos pasmos ao ver os criminosos, "guerreiros do povo brasileiro", com o punho ao alto, desafiando a Justiça e os brasileiros que prestam. Mas foi uma indignação silenciosa.
- Vimos o inchaço dos ministérios e órgãos públicos com pessoas incompetentes e corrompidas. Sofremos com eles, mas ficamos calados.
- Vimos nossas escolas e hospitais se deteriorarem e nosso povo sofrido ser torturado. Nos indignamos, mas nada fizemos.
- Vimos a compra e venda abomináveis e inconstitucionais de apoios de parlamentares a medidas funestas. Mas não reagimos.
- Vimos os filhos do Lula enriquecerem absurdamente e instantaneamente, mas nos calamos diante da explicação mais absurda ainda, risível e cúmplice do pai.
- Vimos a inércia do Governo petista, que se furtou a peitar as reformas estruturais tão necessárias ao país (agrária, política, do trabalho, da previdência) porque seriam impopulares e poderiam entravar seu "projeto de poder". Mas ficamos só observando...
- Vimos o Lula receber títulos de "doutor honoris causa" pelo mundo afora, sem nada entender, porque esse senhor se arvorava de ser analfabeto e lançou um tal programa "fome zero" que foi só engodo. Mas ficamos quietos.
- Vimos a Dilma expelir suas insanidades e idiotices, num português miserável, mas só nos divertimos com isso.
- Vimos nossos pobres ficarem endividados até os fios de cabelo, devido a uma medida populista e demagógica do governo, que lhes "garantiu" as dívidas e os abandonou.
- Vimos os princípios e valores éticos e morais mais caros à família brasileira serem vilipendiados, estuprados, debochados e combatidos pelos "progressistas". Mas não brigamos por eles.
- Enfim, nós assistimos e não reagimos à ruína social, moral, econômica e cultural de nosso país.
NÓS FOMOS COVARDES!
Foi preciso que um corajoso e iluminado juiz federal de primeira instância, de Curitiba, e um militar parlamentar rebelde e igualmente corajoso de 3o. escalão do Exército (em quem, confesso, não depunha muita fé) nos despertassem e nos encorajassem a nos rebelar contra o status quo que nos fazia sofrer e destruía nosso país.
Não os tenho como deuses infalíveis. Eles hão de errar certamente - e eu lhes permito, porque sei que não terão nenhum problema em corrigir suas falhas. São seres humanos que acertam e erram. Mas são dignos da minha mais profunda reverência pelo que são e pelo que fazem, pelo seu caráter e pela sua idoneidade.
Peço a Deus que os proteja e ilumine!
Leila Salomão Jacob Bisinoto
Professora
Universitária, e Doutora
(março de 2019)
segunda-feira, 22 de julho de 2019
CONVIVENDO COM O INIMIGO
Em 2017 o Diário Catarinense colocou sua equipe de jornalistas na estrada e no rumo da área rural do Estado. Objetivo: conferir denúncias de trabalhadoras rurais submetidas à cultura de dominação masculina marcada por agressões físicas, psicológicas, torturas e abusos sexuais.
Conforme diz o texto introdutório da reportagem multimídia "Sozinhas", as mulheres do campo, sozinhas e sem vizinhos, em lugares com dificuldades de comunicação, distantes de serviços de proteção, como polícias e abrigos, elas enfrentam uma realidade marcada pela intolerância que muitas vezes resulta em feminicídios.
Deletar o passado que incomoda, nem sempre é possível.
No caso das mulheres que sofreram abusos morais, sexuais, violência física, e que perderam a autonomia, que viveram diariamente subjugadas, sem voz e com muito medo, elas terão grandes dificuldades para desfazerem-se de sentimentos como medo, menos-valia, culpa, vergonha, ansiedade, angústia, e muitos outros de uma lista imensa (todos eles em graus intensos).
No Brasil, e muito provavelmente em outros pontos do planeta, o fato ocorre com semelhantes ou até maiores intensidades e consequências, já de forma recorrente e tradicional.
Homens e mulheres (muito mais aqueles do que estas), têm demonstrado muita disciplina e perseverança quando se trata de propiciar meios para desgraçar a vida da outra pessoa. Evidente que, independente do sexo, felizmente é imenso o contingente de criaturas dignas do adjetivo "gente boa, e amiga".
Tanto o vídeo ("Sozinhas" - Violência contra mulheres que vivem no campo) quanto o texto que completam a reportagem premiada do Diário Catarinense, falam por si mesmos e nos oferecem um olhar amplo do problema que não deve continuar escondido.
Já no âmbito geral de atuação e convivência, um documentário muito bom, esmiúça o drama vivido por mulheres que conviveram com seus algozes, verdadeiros psicopatas travestidos de companheiros ou maridos, os quais produziram danos psicológicos quase sempre irreparáveis, ainda que, digamos, passíveis de serem mascarados pelas vítimas no sentido de tocarem a vida aparentando como se nada tivesse ocorrido (embora, décadas depois, de modo inopinado, palavras, fatos ou circunstâncias tragam à tona todo o drama duramente sofrido).
No Brasil, e muito provavelmente em outros pontos do planeta, o fato ocorre com semelhantes ou até maiores intensidades e consequências, já de forma recorrente e tradicional.
Homens e mulheres (muito mais aqueles do que estas), têm demonstrado muita disciplina e perseverança quando se trata de propiciar meios para desgraçar a vida da outra pessoa. Evidente que, independente do sexo, felizmente é imenso o contingente de criaturas dignas do adjetivo "gente boa, e amiga".
Já no âmbito geral de atuação e convivência, um documentário muito bom, esmiúça o drama vivido por mulheres que conviveram com seus algozes, verdadeiros psicopatas travestidos de companheiros ou maridos, os quais produziram danos psicológicos quase sempre irreparáveis, ainda que, digamos, passíveis de serem mascarados pelas vítimas no sentido de tocarem a vida aparentando como se nada tivesse ocorrido (embora, décadas depois, de modo inopinado, palavras, fatos ou circunstâncias tragam à tona todo o drama duramente sofrido).
sábado, 20 de julho de 2019
A GÊMEA CENTENÁRIA
As
propagandas, numa determinada época, quando percebidas mais à
frente, num futuro distante, servem para se mensurarem os valores de
um período histórico, as preferências, os hábitos, o contexto e
as circunstâncias sociais, políticas, religiosas, enfim, podem, em
boa medida, retratar um momento de um povo.
A
década de 1910 reuniu produtos curiosos em relação aos padrões
atuais: a Succulina, usada no combate à calvície; o Salkinol, que
prometia combater a urucubaca (a má sorte, o azar, a ziquizira), a
influenza, a tosse rebelde, bronquites, asma e desinfectava os
pulmões; o chocolate Lacta (que apelava na propaganda, dizendo que
“o médico legista constatou que a morte do cadáver foi devido a
ele não ter feito uso do delicioso chocolate”; as cervejas Supimpa
(da Brahma), e a Rainier (que garantia que era “benéfica para
jovens e idosos”); o Vigonal, um calmante cuja extensa propaganda
dizia que “o pessimista é uma criatura indesejável no lar, na
sociedade e nos centros de trabalho, porque as suas opiniões são
sempre negativas. Vê tudo negro! Entretanto, o pessimista não tem
culpa de ser assim... São os nervos esgotados os verdadeiros
responsáveis pelo seu estado. Vigonal é o reconstituinte indicado.
Vigonal nutre as células do cérebro, enriquece o sangue,
recalcifica os ossos, promove a perfeita assimilação dos alimentos.
Faz aumentar vários quilos em poucas semanas. Inicie imediatamente o
uso de Vigonal e seja otimista, para ser bem-vindo em toda a parte”;
e, o Vinho Caramuru (indicado “para fraqueza genital, para os que
estão no ocaso da vida, para combater a falta de memória, a
insônia, a neurastenia, e a espermatorreia”).
1914
foi o ano em que a publicidade profissional iniciou formalmente no
Brasil. Na ocasião, foi inaugurada em São Paulo a agência
“Eclética”, com um portfólio de marcas famosas: Ford, Texaco,
Sabonetes Lux, Palmolive, e Eucalol, Guaraná Champagne, Maizena,
creme dental Kolinos, canetas Parker, Gillette, Aveia Quacker, e
Biscoitos Aymoré.
Paralelamente,
os governos de um modo geral, juntos aos estrategistas militares,
empenhavam-se na propaganda da 1ª
Guerra Mundial, quando, por exemplo, distribuíram posters com os
dizeres: “Por que eu não vou? O 148º Batalhão precisa de mim.”;
“Quatro razões para comprar bônus de guerra”; “Preserve os
produtos perecíveis. Se você tem um pomar, você deve fabricar
conservas”…
Em
meio às terríveis consequências daquele primeiro grande conflito
mundial, das epidemias de sífiles, varíola, e gripe espanhola,
amontoaram-se cadáveres, e o trágico resultado disso, foram 65
milhões de vidas humanas ceifadas, somente entre 1914 e 1918.
Como
não poderia deixar de ser, e como ainda hoje ocorre, o êxodo, a
fuga de famílias em busca de paz e meios de subsistência, foi a
alternativa que representava uma boa dose de esperança, ainda que se
vislumbrasse um futuro de esforços redobrados, dificuldades de
recomeço, e readaptação.
Aqui,
no Sul do Brasil, quatro municípios quase que vizinhos, em
território catarinense, nasceram no ano de 1917: Chapecó, Joaçaba,
Mafra, e Porto União. Esta última surgiu com o dom de unir povos,
de geminar-se a outro município (União da Vitória), como resposta
às disputas territoriais, como a exaltar todas as vitórias humanas,
ainda que tenha sido fundada em 05/09/1917, em pleno borborinho
político e social que todos os conflitos armados propiciam.
(fotos
de Claro Jansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/
Nesse
quadro, quando voltamos o olhar ao passado, além do nosso próprio
passado, quando exercitamos a reflexão em torno de nossos
antepassados, daqueles que, de alguma forma, em qualquer instância,
em qualquer lugar do mundo, trabalharam pela vida, pela perpetuação
da espécie, com ou sem vínculo de parentesco, é preciso
reverenciar o denodo, a coragem, as iniciativas daquela gente.
(fotos
de Claro Jansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/
Olhando
de longe, ainda assim, dá para imaginar o esforço, as aventuras e
desventuras, o cansaço, a quase exaustão de caminhar na direção
do desconhecido (computados os medos, as incertezas, as saudades, as
parcelas de vida que tiveram que ser deixadas para trás, o
recomeçar).
(fotos
deClaroJansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/
Caminhar
nos dias atuais em busca de melhorias de vida, não é coisa simples,
todos o sabemos. Caminhar no mesmo sentido há cem anos da tecnologia
da velocidade dos tempos de agora, é outra coisa. Seguir a estrada,
ou por outra, confrontar mares bravios, em busca de incertezas, e ter
que olhar pela vida dos familiares de maior e ou de tenra idade, no
início do século XX, sem expectativa de descanso ou trégua, é um
feito digno de todas as reverências, dos mais expressivos monumentos
ou obeliscos.
Aquele
povo, do início do século XX, exausto pelos repuxos da vida,
certamente, não teve tempo de reflexionar o suficiente para
economizar gastos com casas, ruas, estradas, fábricas, e toda a
estrutura que acabaram por deixar para nosso usufruto agora, em 2017.
Sangue, suor e lágrimas regaram os seus caminhos.
(fotos
deClaroJansson) http://paulodafigaro.blogspot.com.br/2014/11/
Porto
União, a bela e acolhedora Porto União, terra de gente
trabalhadora, produtiva, hospitaleira, tem todo direito, e o dever,
de reverenciar os seus antepassados, em grande, e no melhor estilo.
Vistas de cima, Porto União (SC) e União da Vitória (PR), as Gêmeas do (Rio) Iguaçu.
CULPAS E CULPADOS
Na
Indonésia, em 2013, Mita Diran, a jovem e simpática redatora da
agência Young
& Rubicam
morreu por causa de uma overdose de trabalho: ela manteve-se em
atividade, ininterruptamente, durante 3 dias. Para ficar “acesa”,
ela fizera uso da bebida energética Krating Daeng, uma versão
tailandesa do Red Bull. O coração de Mita não teria resistido à
combinação, segundo informações de imagem publicada no site
Venusbuzz. No mesmo ano, desta feita em Londres, um estagiário do
Bank of America, de 21 anos de idade, que sofria de epilepsia, também
veio a falecer por excesso de trabalho, virando três noites seguidas
“no batente”.
Culpar-se
por não conseguir atingir metas humanamente inatingíveis, pode
levar a situações semelhantes a estas, em que, para escapar da
pecha de incompetente, ou preguiçosa, a pessoa entra num redemoinho
de ações, e num irracional esforço para demonstrar que é capaz,
como se capacidade fosse só quantidade de horas trabalhadas.
Há
um destacado grupo de pessoas que tendem a acatar e absorver todas as
culpas do mundo; e que não precisam nem que alguém as acuse, pois
elas mesmas se encarregam disso. Essas são criaturas que se
sobrecarregam em demasia, e que por isso sofrem muito além do
suportável. O natural delas é estar sempre se cobrando, e até
“queimando o próprio filme”, arriscando-se a verbalizar críticas
pesadas sobre elas mesmas, condenando-se com facilidade, sempre
buscando uma perfeição que parece inatingível. São indivíduos
que não conseguem estabelecer limites nem prioridades, e quando
tentam balizar seus universos de atuações, vivenciam o martírio da
culpa de não produzirem os resultados esperados.
Para
quem erra deliberadamente, e sempre encontra argumentações para
explicar e até justificar os seus próprios erros, a culpa deles só
existe na cabeça das outras pessoas. Para aqueles que pisam na bola
por descuido ou imperícia, o equívoco pode surpreender a eles
mesmos, constrangê-los, envergonhá-los, e entristecê-los. Para os
cabeças duras, que não fazem as coisas certas, mas que defendem com
unhas e dentes que estão corretos, aceitar a culpa é algo quase que
impensável.
O
fato é que, por arrogância, empáfia, constrangimento, vergonha,
medo, deslealdade, infidelidade, e por muitas outras razões, assumir
a autoria de qualquer transgressão voluntária, ou não, para muita
gente é experimentar um sentimento incômodo e doloroso. Não resta
dúvida de que, qualquer que seja a motivação que respalde a
tentativa de negar a culpa, todo esse rol dos sentimentos derivados
dela permanece martelando as suas mentes.
Não
é fácil se encontrar quem reconheça, com naturalidade, a autoria
de um ato equivocado, que aceite o próprio erro como aprendizado,
que se predisponha a reorganizar os pensamentos e ações, no sentido
de prosseguir na caminhada sem traumas, acolhendo a experiência com
a intenção de acrescer conhecimentos, ampliando a própria
sabedoria.
No
emaranhado de culpas e culpados, porém, existe um aspecto curioso
que interessa comentar: trata-se das expressões “culposo” e
“doloso”, que se referem a crimes praticados sem a intenção de
matar, ou que tenha sido premeditado pelo criminoso, e que os
jornalistas, provavelmente seguindo as regras dos manuais de redação
ou de telejornalismo, repetem como um mantra, para traduzir o
significado do juridiquês para o português do dia a dia. Nisso,
apesar de ser uma chatice sem medida, não há porque culpar os
profissionais da imprensa.
Num
outro ângulo da apreciação do termo, vale lembrar que há
apelações em tribunais para que pessoas acusadas de crimes tidos
como cruéis sejam inocentadas porque, segundo os advogados de
defesa, seus clientes agiram sob a influência de “violenta
emoção”, notadamente nos crimes passionais, em que a paixão
dá lugar a ira incontrolável.
Saindo
do âmbito do juridiquês, conforme consta nos dicionários, a culpa
pressupõe responsabilidade por algo, condenável ou danoso, causado
a outrem; transgressão; crime, delito; atitude ou omissão que possa
causar dano ou desastre a outrem; ato voluntário que evidencia
imprudência, imperícia ou negligência e provoca dano ou dolo a
outrem; falha deliberada no cumprimento de um dever ou de um
princípio ético; responsabilidade por ato de transgressão de
preceitos religiosos ou morais; pecado; e consciência penosa por ter
falhado no cumprimento de uma norma social ou moral.
Nessa
salada conceitual linguística, transitando também pelas ciências
do Direito e da Psicologia, dá para perceber que existem alguns tons
de culpa, e que, nem sempre o “culpado” é culpado,
principalmente quando se soma a isto alguns aspectos das emoções e
dos sentimentos, colocando subjetividade na questão.
Pessoas
que carregam o fardo pesado da culpa autoatribuída, muitas vezes
injusta, tendem a sofrer com a autoestima baixa, e são propensas a
estados importantes de depressão. Nesse
contexto, é forçoso lembrar que este é, como tantos outros, um
comportamento que pode ter origens remotas, lá na infância ou na
adolescência, em razão de circunstâncias educacionais, de
tradição, de religião, de aquisição de hábitos e costumes
herdados ou assimilados de parentes ou pessoas outras.
Para
tentar escapar da culpa que parece teimar em lhes perseguir, pessoas,
ora trabalham em excesso, ora elegem outros mecanismos de autodefesa
os mais curiosos; ora se recolhem na solidão, ora tentam transferir
culpas, ou se vitimizam, saltitando entre sentimentos consequentes ou
derivados das transgressões praticadas, reais ou imaginárias.
Por
fim, para não deixar de lado aqueles que preferem ver as coisas pelo
lado filosófico, vale lembrar dos que defendem que não existe nem
culpa nem culpados. Segundo essa concepção, tanto a culpa quando o
dolo, podem ter as suas raízes nos hábitos e costumes ancestrais
adquiridos através das tradições, das educações e orientações
recebidas, do contexto e das circunstâncias históricas, políticas,
familiares, profissionais, escolares etc. Seríamos, assim, uma
espécie de vítimas, em vez de réus.
INGRATOS E INGRATIDÕES
Não
precisa ser um especialista em estatística para descobrir que cerca
de 90% das pessoas, no mundo, produzem atos de ingratidões,
explícitas, implícitas, premeditadas ou não.
Lembro de uma citação
evangélica em que é narrado um episódio no qual Jesus curou dez
leprosos e somente um, teve a honradez de voltar para agradecer
(os
outros 9 esqueceram-se ou fizeram-se de esquecidos da ajuda
recebida).
Não
sei se é verdade, mas já ouvi falar que Francisco de Assis, o
santo, também sofria com a ingratidão de seus assistidos quando,
por mais esforço que fizesse para tudo sair no capricho, com o seu
grupo de abnegados e caridosos, não raras vezes, ouviu reclamações
sobre o tempero da sopa.
A
ausência do sentimento sincero por parte de alguém que recebeu
algum favor, auxílio ou benefício, só não afeta a quem é santo.
Quem
será que desconhece as inúmeras cenas de ingratidão de filhos
contra pais, cônjuges contra cônjuges, patrões contra empregados,
empregados contra patrões, empregados contra empregados, enfim,
gente contra gente?…
Entretanto,
no grupo dos políticos, a depender dos interesses em jogo, e da
dimensão do caráter traiçoeiro do ingrato, ações desse porte é
que não faltam. E isto acontece sem meias palavras, à vista de
todos: basta acompanhar os acontecimentos através das emissoras de
televisão das assembleias, das câmaras, e do senado (para não ir
mais longe).
Entre
muitos outros, destacou-se recentemente, através da imprensa, um
caso curioso de ingratidão reconhecida publicamente (além do
vergonhoso e nefasto alcance dos atos de corrupção nele contido, e
que assola o país). Refiro-me a reclamação declarada formalmente
nos autos da Operação Lava Jato, na qual o ex-diretor superintendente da Odebrecht
Ambiental/Saneatins, Mário Amaro da Silveira, afirma o seu
desconsolo em razão da doação de R$ 500 mil feita à
senadora Kátia
Abreu, sem a contrapartida esperada, conforme evidenciou o
delator: “ela nunca fez nada por nós no Tocantins”.
Contudo,
para que eu também, no momento em que escrevo este artigo, não
incorra em ingratidão ou falta de reconhecimento para com o Poder
Legislativo do meu País, é forçoso lembrar de que, pelo menos uma
vez, a falta de gratidão é mencionada e até punida em lei:
trata-se dos artigos 557 a 561 do Código Civil promulgado em
10/01/2002, em que refere a “revogação de doações no
caso de ingratidão do donatário”. Inclusive,
considera-se também a possibilidade dos ingratos atentarem contra a
vida dos doadores, ou cometerem homicídio doloso contra eles,
ofensas físicas, injúria grave ou calúnia. Nem sempre é
possível se anular uma benfeitoria realizada espontaneamente, e de
forma alguma é possível retroceder o tempo para se desfazer a boa
ação irreconhecida.
A
ingratidão não só rima com frustração, desilusão, decepção, e
traição, mas também faz coro com a covardia, a falta de caráter,
e a indigência moral.
Quando
a falta de reconhecimento é premeditada, indigna, e assemelha-se a
um inesperado escarro insultuoso na direção da vítima.
Entretanto,
como qualquer ação, no caso dos ingratos, essa atitude reflete a
índole traiçoeira, e traduz o seu descompromisso com a decência e
com a ética.
É
inescapável: um ingrato proposital também é um desonesto (nem que
seja no campo da moralidade, mas é).
A
confiança é uma conquista moral que referenda e dá o aval de
honorabilidade a quem é digno dela. Quem articula cenas premeditadas
de ingratidão, somente para tentar anular a outra pessoa, antes
dessa ser uma ação defensiva, também retrata pusilanimidade de
caráter, descompromisso com a retidão.
A
baba venenosa de quem engendra atos de ingratidão que resultem em
constrangimento público ou privado, se espraia para além de quem
sofre o escárnio, o menosprezo, e atinge todos aqueles que percebam
a cena de amoralidade.
Victor-Marie
Hugo foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista,
estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande
atuação política em seu país, e costumava dizer que “os
infelizes são ingratos, e isso faz parte da infelicidade deles”.
As
atitudes ingratas e, por isso traiçoeiras, não são exclusividades
das serpentes mais peçonhentas, nem dos escorpiões, nem das aranhas
mais perigosas, mas, infelizmente, pelo poder de racionalizar, o ser
humano (?) também, em certos momentos, é tão letal quanto aqueles
seres irracionais.
VICIADOS EM MORRER
“Maconha
para uso recreativo” e “drogas legais” são expressões dúbias,
pelo menos para mim. Intoxicar-se, seria mesmo divertido? E
divertindo, esta seria uma alegria compatível com o que se entende
por felicidade? Basta alguma coisa ser rotulada de “legal” para
ser moral, boa e útil?
Comportamentos
suicidas sempre existiram, e desde os primórdios da humanidade
ocorreram exemplos históricos de autoextermínios espontâneos, ou
não.
Ájax,
na Mitologia Grega, Hércules, e Narciso, fazem parte da extensa
lista de suicidas famosos. Alguns filósofos da antiguidade, como
Pitágoras, Sócrates e Demóstenes, também saíram da vida através
do autoextermínio. Judas Iscariotes e Poncio Pilatos, já na Era
Cristã, também optaram pela morte espontânea. Vincent van Gogh,
Santos Dumont, Adolf Hitler, e Getúlio Vargas, entre outros, mais
recentemente, assumiram a decisão de acabar com a própria vida.
No
livro “As Cerimônias da Destruição”, o médico psiquiatra
Eduardo Kalina, e o filósofo e linguista Santiago Kovadloff, ambos
professores da Universidade de Buenos Aires, expõem com lucidez
algumas condutas sociais autodestrutivas, e interpretam
o suicídio como
fruto, não do comportamento individual, mas sim como consequência
do coletivo, buscando ao mesmo tempo, um caminho que permita se
compreender o que há de específico nas modalidades de suicídios
contemporâneos, diretos ou indiretos.
Se
observarmos muitos dos hábitos desenvolvidos pela humanidade, e
aproximarmos mais o foco, dá para perceber que instituímos vícios
que são verdadeiros trampolins que podem nos impulsionar para a
morte prematura.
A
partir daí, é possível se presumir que, por exemplo, a
influenciação comportamental midiática contribui, e muito, para
que ocorra diariamente um número expressivo de frustrações nas
pessoas.
Sugestões
apartadas do senso de genuína utilidade é o que não falta nas
propagandas veiculadas, e na programação em geral.
Emissoras
e editoras que promovem a educação com ética e moralidade, têm
menos audiência, ou, no caso das empresas de mídia impressa,
um reduzido número de leitores.
Alguns
apelos publicitários exercem uma pressão tão acentuada em alguns
indivíduos, que os fazem agir e reagir por impulso, sem que
exercitem o chamado ciclo do pensamento lógico humano, que
contempla, a cada atitude importante, as iniciativas de SENTIR e
PENSAR, para depois AGIR com consciência.
A
glamurização de alguns vícios indutores de dependências, de
qualquer ordem (química, emocional, sentimental, virtual, funcional,
alimentar, sexual, psíquica, etc.), pode ser considerada como
propiciadora de episódios lamentáveis de autoextermínios indiretos, aqueles em que a vítima não cogita de se matar, mas
se mata aos poucos.
Nesse
sentido, comportamentos equivocados existem para todos os gostos, e
podem ir das extravagâncias do alcoolismo,
do tabagismo, da drogadição de
um modo geral, das viciações alimentares desregradas, do excessivo
trabalho, do sexo irresponsável, das atitudes desrespeitosas e
insultuosas para com as outras pessoas, até chegar aos excessos de
velocidade no trânsito, e nesse contexto, das culturas do ódio, da
corrupção, e dos sentimentos de culpa, reais ou imaginários, etc.
Etc.
Indo
para além dos reconhecidos efeitos nefastos das tais “drogas
legais ou ilegais”, despontam outros verdadeiros ácidos que
corroem as estruturas físicas ou psíquicas de quem “paga para
ver”, ou de quem “vê sem pagar”: são os tóxicos das
preocupações geradas e voltadas para o ter, e outros tantos hábitos
nada salutares que, também, se configuram como suicídios indiretos,
premeditados ou não.
As
condutas autodestrutivas, classificadas como indiretas, podem ser
inspiradas integralmente nas culturas familiares ou sociais, nas
várias camadas da sociedade onde formatam-se as tradições,
costumes, e visões de mundo que influenciam de forma positiva, ou,
por vezes, extremamente negativa, por toda uma vida.
De
fato, há quem aparente gostar de viver perigosamente, de modo a
zombar da sorte a todo instante, sem considerar que um mero descuido
com a higienização das próprias mãos, poderá lhe causar graves
doenças; que basta a primeira pitada num cachimbo de crack para
se começar uma descida vertiginosa num poço escuro e profundo; que
pisar fundo no acelerador de um veículo automotivo é uma mania
perigosíssima e irresponsável, na medida em que a imprudência fala
mais alto; que os vícios da raiva ou do ódio, corroem estômagos,
fígados, e outros órgãos vitais com a força da letalidade dos
cânceres; que não há coração que aguente firme e por muito tempo
às descargas venenosas que esses sentimentos produzem; que quem
“fala pelos cotovelos”, resvala na antipatia geradora de
relacionamentos tensos; que a viciação na mentira é fator de vida
agoniada, que pede vigília a todo momento a fim de administrarem-se
as inverdades, que se sobreporão à primeira falsidade; que
vitimizar-se pode ser uma forma de ganhar migalhas de atenção, mas
também requer o uso e o desuso de máscaras, e o peso consciencial
delas poderá causar danos morais e sentimentais irreparáveis; que a
sovinice ou o esbanjamento de recursos são dois extremos que também
podem induzir danos emocionais e sentimentais graves; que a crítica
ácida pode ser devolvida com triplicada acidez, fomentadora da
inimizade; e que macerar o próprio corpo com trabalhos acima da
capacidade física ou mental, pode representar riscos de Acidente
Vascular Cerebral – AVC, ou ataque cardíaco fulminante.
Por
fim, é importante considerar que, tanto as pessoas propensas ao
suicídio direto, quanto aquelas que adotam condutas autodestrutivas
indiretas, devem merecer a atenção não só da parte dos
profissionais da saúde mental, mas também daqueles que atuam na
educação, na segurança, e em outros setores capacitados a
prestarem apoio emocional adequado.
O
esforço pela valorização da vida é dever de todos, objetivando
reduzirem-se os alarmantes índices de tentativas e de
autoextermínios conscientes ou indiretos.
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